sábado, 19 de junho de 2010

Futebol: mítico e monetário.


Há uma estreita relação entre futebol e economia. Fenômeno ainda pouco estudado e compreendido, mas que, em linhas gerais pode ser sintetizado através de comparações cronológicas, num recorte específico entre a copa de 70, por exemplo, e a copa de 94. Ainda não sabemos se existe um fator motivacional que leva o trabalhador a produzir mais e melhor após uma situação de êxtase (titulo), ou se é o Estado que se apropria da situação favorável e a utiliza como propaganda, ou ainda se o conceito de alienação provocado pelo futebol e pela televisão contribuem para a “hegemonia” e para a dispersão dos problemas sociais óbvios que, no entanto, em tempos de copa simplesmente desaparecem!
Fato é que o futebol assim como os jogos Olímpicos, desempenha uma função social bem definida: o entretenimento das massas. Isso fica claro na década de 70, na afirmação do governo militar e no auge da repressão, a situação econômica e social do país não era das mais favoráveis: rebeliões, censura, guerrilha... Nesse contexto o Futebol serviu como fator de unidade nacional, uma espécie de cortina-tampão-biombo entre os grupos antagônicos que lutavam pelo poder. O Brasil ganhou a copa, veio o tal “milagre econômico”, os militares se consolidaram no poder e liquidaram as oposições. O povo continuou sua vida monótona como seu não houvesse uma guerra lá fora.
Em 1994 foi semelhante. Uma nação insegura quanto ao futuro, assolada pela inflação, pelo desemprego, por falta de segurança, saúde e educação de qualidade. O interessante é que no mesmo ano o governo Itamar Franco lança o Plano Real, assinado por um economista? Não! Assinado por um sociólogo. Uma moeda que tinha tudo pra fracassar assim como o Cruzado e o Cruzado Novo; depois do tetra, tem um salto qualitativo e devolve o otimismo, o poder de compra, o crédito aos brasileiros. Desde então a economia nacional vem numa ascendente quase ininterrupta apenas abalada pelas crises do México, Oriente e Rússia, no final da década de 90. Mas pra quê se preocupar se na época tínhamos o Fenômeno e Felipão? Mais um caneco e a economia decola novamente...
Pra ficar mais claro essa relação intrínseca é só pensar que entre 1974 e 1994 o Brasil não ganhou nada, 20 anos na fila e 20 anos de recessão. Crise do petróleo nos anos 70, hiper-inflação nos anos 80 e hiper-corrupção nos anos 90. Atualmente a Seleção Brasileira serve como “ponta-de-lança” para as ambições do governo Lula: expandir sua influencia pela América e ocupar uma cadeira permanente na ONU. Para tanto, foi feito um jogo amistoso no Haiti em 2006, o chamado jogo da paz. A infantaria abriu caminho para a cavalaria, pode-se dizer.
Paralelamente ao fator econômico que, aparentemente tem relação com o futebol, esse esporte trás consigo outra característica que o torna ainda mais apaixonante: a fé. Ah eu poderia novamente criticar, associando isso à alienação, mas não vamos por aí. Percebemos uma religiosidade muito forte nos jogadores, sobretudo nos momentos difíceis e, acredito que assim é com todos nós, o ateísmo é um conceito por demais abstrato, até o mais cético dos ateus chama por Deus na hora da morte ou do desespero. Não ser cristão também não significa necessariamente ser ateu.
O Brasil, até 1950 jogava todo de branco, ao melhor estilo inglês, com a derrota em casa para o Uruguai, decidiram mudar a cor do nosso uniforme para amarelo. Acontece que em 1958, na copa da Suécia a seleção só levou o uniforme número 01 e fazia uma campanha espetacular ganhando da União Soviética, Áustria e França. Na final pegamos os donos da casa, a Suécia que também joga de amarelo e tinha o mando de campo. O que fazer? Optaram pelo azul, por estar presente na bandeira nacional, mas os jogadores ficaram surpresos e um tanto receosos pela mudança na cor. Superstição? Creio que não. Foi então que o chefe da delegação teve uma grande sacada, disse ele: "nós vamos vencer, vamos jogar com a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida". Resultado: Brasil 5 a 2 na Suécia e nascia o maior gênio de todos os tempos no esporte, Pelé.
Na copa da África o grande mistério é própria bola. A tal da “jabulaaaaaani”, que já ganhou narração especial do Cid Moreira e teve a si atribuídos poderes sobrenaturais, segundo Luis Fabiano, mas o padre Quevedo já apaziguou e disse que isso “não ecxiste”. São os encantos que fazem deste o maior de todos os esportes, uma representação da vida.
Futebol é mais do que 11 contra 11, uma bola e um campo. Pode representar a ascensão ou a decadência de um país ou governo e ainda mantém acesa a chama da fé (mais que a maioria das Igrejas!).