quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O país da Cocanha de Aécio

O título não é um trocadilho sobre o político de carreira, ao contrário desta primeira frase. Trata-se de “Cocanha” mesmo, aquele lugar utópico, fantasioso, onde não é necessário o fardo do trabalho para suprir as necessidades básicas, onde não há fome, nem dor, tampouco existe angústia e medo. Cocanha é uma utopia ao melhor estilo dos clássicos como “Utopia” de Thomas Morus, “A cidade do sol” de Campanella, e “Nova Atlantis” de Francis Bacon. 

Existem duas formas de utopia, uma abstrata e outra concreta. A primeira situa-se no terreno da especulação e contemplação com pouco contato com a realidade, é uma festa. Aécio vive numa utopia abstrata. Simplesmente não existe luta de classes para o rapaz do Rio com jeitinho mineiro ardiloso. Vivemos supostamente numa harmonia edênica, igualitária, onde todos tem os mesmos direitos, esperanças e oportunidades; a tal da meritocracia. Aécio desconhece a realidade porque nunca a viveu. Não quero dizer com isso que uma vida aristocrática não possa ser sinônimo de percepção e perspicácia; homens de berço e “sangue azul” tornaram-se grandes humanistas, Pedro II é um exemplo e intelectuais da alta burguesia como Lukács compreenderam como poucos a estética moderna. Ocorre que Aécio, por seu histórico de vida pública e privada e pela própria ignorância e arrogância (que dá nojo) é incapaz de compreender o Brasil. Por isso vai perder a eleição (bati três vezes na madeira).

A outra utopia, aquela concreta, foi objeto de estudo de dois dos maiores pensadores do século XX. Karl Mannheim (Ideologia e Utopia) e Ernst Bloch (Espírito da utopia; Princípio Esperança). A utopia concreta, ao contrário da abstrata, age no mundo real e o nega. Seu agente é a esperança de um mundo melhor, mas voltado para a transformação do presente, onde as condições sociais são as formadoras da utopia. É esta que reivindicamos para o Brasil, a esperança de um mundo melhor e não ao retrocesso. “A filosofia terá a consciência do amanhã, tomará o partido do futuro, terá consciência da esperança. Do contrário, não terá mais saber” (Ernst Bloch).

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Michael Löwy: romantismo, utopia e marxismo

Resumo:

Michael Löwy é reconhecido como um dos grandes intérpretes de Karl Marx, Max Weber e Walter Benjamin na atualidade. A partir da análise desses três ícones da sociologia e filosofia, Löwy desenvolve seu próprio método científico e epistemológico na sociologia do conhecimento. Trata-se de um autor pouco ortodoxo que busca a aproximação da sociologia da religião com o materialismo histórico. Este breve ensaio visa estabelecer uma síntese de suas principais obras e verificar alguns conceitos, como a afinidade eletiva, que interligam toda sua produção intelectual. A crítica que Löwy faz ao marxismo ortodoxo e ao positivismo meramente evolucionista é pertinente para pensar algumas das diretrizes das ciências humanas na pós-modernidade; entre a crença ilimitada no progresso técnico e científico e o niilismo da geração pós-moderna situa-se o pensamento de Michael Löwy. Ao relacionar temas aparentemente contraditórios e antitéticos, nosso autor questiona o próprio estatuto cientificista dos meios acadêmicos, sem cair na subjetividade que caracteriza o outro pólo da modernidade. O artigo não tem a pretensão de fazer uma leitura filológica de sua produção, o que seria trabalho para uma tese, mas apenas pensar alguns dilemas da sociologia do conhecimento a partir de um grande intelectual romântico e utópico por excelência. 

Palavras-chave: Michael Löwy; Sociologia do conhecimento; Positivismo; Marxismo; Romantismo.