Resumo:
Este artigo pretende demonstrar os sentidos polissêmicos da historiografia do Contestado em suas ressignificações sociológicas e antropológicas no decorrer do século XX. Isto significa afirmar que existem diversas vertentes interpretativas em disputa simbólica sobre memória do conflito, o que demonstra a complexidade e, ao mesmo tempo, a riqueza de atores e cenários que fazem deste, um dos episódios mais enigmáticos da História das lutas no Brasil. Trata-se de reconfigurar, em sintonia com a grande tradição do messianismo no Brasil, o catolicismo rústico do sertanejo e compreender como os “fanáticos” religiosos do início do século XX, hoje são abordados como “iluminados”, por parte dos historiadores. No decorrer desse processo de longa duração é importante verificar o predomínio das correntes teórico-metodológicas como o Positivismo no período da República Velha, o Estruturalismo e a Escola dos Annales na segunda metade do século e, finalmente o Marxismo britânico. Por fim propõe-se uma hermenêutica ainda pouco utilizada pela historiografia tradicional, a afinidade eletiva entre a teoria messiânica da História de Walter Benjamin, os conceitos ontológicos da consciência antecipadora ou o “ainda-não-ser” de Ernst Bloch, como possibilidade interpretativa da dicotomia entre o imaginário milenarista e a realidade capitalista do Contestado.