O título não é um trocadilho sobre o político de carreira, ao contrário desta primeira frase. Trata-se de “Cocanha” mesmo, aquele lugar utópico, fantasioso, onde não é necessário o fardo do trabalho para suprir as necessidades básicas, onde não há fome, nem dor, tampouco existe angústia e medo. Cocanha é uma utopia ao melhor estilo dos clássicos como “Utopia” de Thomas Morus, “A cidade do sol” de Campanella, e “Nova Atlantis” de Francis Bacon.
Existem duas formas de utopia, uma abstrata e outra concreta. A primeira situa-se no terreno da especulação e contemplação com pouco contato com a realidade, é uma festa. Aécio vive numa utopia abstrata. Simplesmente não existe luta de classes para o rapaz do Rio com jeitinho mineiro ardiloso. Vivemos supostamente numa harmonia edênica, igualitária, onde todos tem os mesmos direitos, esperanças e oportunidades; a tal da meritocracia. Aécio desconhece a realidade porque nunca a viveu. Não quero dizer com isso que uma vida aristocrática não possa ser sinônimo de percepção e perspicácia; homens de berço e “sangue azul” tornaram-se grandes humanistas, Pedro II é um exemplo e intelectuais da alta burguesia como Lukács compreenderam como poucos a estética moderna. Ocorre que Aécio, por seu histórico de vida pública e privada e pela própria ignorância e arrogância (que dá nojo) é incapaz de compreender o Brasil. Por isso vai perder a eleição (bati três vezes na madeira).
A outra utopia, aquela concreta, foi objeto de estudo de dois dos maiores pensadores do século XX. Karl Mannheim (Ideologia e Utopia) e Ernst Bloch (Espírito da utopia; Princípio Esperança). A utopia concreta, ao contrário da abstrata, age no mundo real e o nega. Seu agente é a esperança de um mundo melhor, mas voltado para a transformação do presente, onde as condições sociais são as formadoras da utopia. É esta que reivindicamos para o Brasil, a esperança de um mundo melhor e não ao retrocesso. “A filosofia terá a consciência do amanhã, tomará o partido do futuro, terá consciência da esperança. Do contrário, não terá mais saber” (Ernst Bloch).
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