A um amigo "ausente"
Meu amigo ausente
És mais presente
Do que imaginas.
Sinto sua doce presença
Na mais simples
Flor da bonina.
No vento atrevido
Que farfalha as folhas da amora
Sinto que me namoras.
Nos mais variados
Sabores do queijo Minas
A vontade de roubar teus beijos me domina.
No olhar de tesoura
Que corta o céu e a montanha
A vontade de te ter me entranha.
No toque macio
Das roupas de cama
Sinto que me amas.
Se és, assim, tão presente
Como, ainda, tens coragem
De te declarares ausente?
(Autora: N.L.A.C)
sexta-feira, 26 de junho de 2015
domingo, 21 de junho de 2015
Aforismos para a história de um jaleco
Durkheim
pensou ter encontrado as formas elementares da religião no sistema totêmico.
Foi contestado, mas em partes permanece correto. Objetos carregam a aura e em
alguns casos, a própria personalidade. Um objeto único, sendo arte, mantém o
valor de culto, disse Benjamin. Pode ser um jaleco um totem? Talvez. Uma
representação, sem dúvida.
“Leiam-me
devagar”, advertiu Nietzsche na Aurora.
Pois, um aforismo jamais coincide com a verdade. Ou é uma meia verdade, ou uma
verdade e meia. Proclamou Karl Kraus, mestre no estilo alegórico. Alegorias e
aforismos são herméticos, escondem a verdade, decifrada apenas por aqueles que
têm o espírito livre, de verdades.
Medicina
era a quimera de mamãe, pobre coitada. Mas o branco, tal como entre os símbolos
de Cruz e Souza penetrou no inconsciente. A pureza branca transformou-se em sangre
pútrido, no açougue. Conhecemos Sífiso e sua maldição do eterno retorno,
segundo Engels. Mas na ânsia de ser Prometeu e desafiar os deuses na terra e a
servidão humana (ou seria o próprio Fausto? Oh dúvida) buscou a profana
ciência. O vermelho púrpuro encontrou ressonância no vermelho socialista.
De linho e rosas brancas vais vestido,
Sonho virgem que
cantas no meu peito!...
És do Luar o
claro deus eleito,
Das estrelas
puríssimas nascido.
(Cruz
e Souza)
O
jaleco sujo de carne animal foi para o laboratório de anatomia humana. Não
poderia haver lugar melhor para compreender a vida e a morte. Odor, formol. Tão
materialista, não compreendia a alma e as formas. E ela chegou como um anjo
branco, com os mesmos sonhos e desejos. “Demora eternamente, és tão bela”.
Dividiu a história tal como Cristo ou a grande Revolução. Paz, pureza, virgem.
Do romance ao drama homérico e ao soneto de despedida, de Vinicius, de dor, de
saudade.
“Nessa altura despertará também a pobre
verdade aqui contida, que um dia se picou na antiquada roca de fiar, quando,
sem autorização para isso, quis tecer para si próprio, numa arrecadação cheia
de talha velha, uma beca professoral.” (BENJAMIN).
É
possível substituir o amor pela ciência ou pela política? Ciência como vocação,
Weber adverte, também é preciso ter “paixão e devoção apaixonada a uma ‘causa’,
ao deus ou ao demônio que a espera”. Livros e putas podem-se levar para cama.
Livros e putas tem entre si, desde sempre, um amor infeliz. Livros e putas –
notas de rodapé são para uns o que são, para outras, notas de dinheiro na mesa.
(Rua de mão única, Benjamin).
Sedex.
O jaleco se foi. Habitar outro corpo, com o mesmo calor de adolescente e ficou o
vazio. Do realismo para o barroco. Marília sem Dirceu. Os livros e o vinho
suplantam momentaneamente a alma vazia. Busca-se calor noutros panos, bocas,
corpos... vazios. Utilitarismo econômico mata a vida. Bares cheios, almas
vazias.
E para o ódio afogar e o ócio ir entretendo
Desses malditos que em silêncio vão morrendo.
Em seu remorso Deus o sono havia criado;
O Homem o Vinho fez, do Sol filho sagrado!
(Sainte-Beuve, Abel
e Caim). Blasfêmia.
Nem
o tempo messiânico preenche a parusia. Busca-se a ressurreição. Domou o destino
pelas mãos, perdeu a felicidade entre os dedos.
Ainda é cedo. Vento no litoral. Pistas.
Labirinto. Biografia.
Assinar:
Postagens (Atom)